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Entrevista com Padre Amaro

Entrevista com Padre Amaro
O BOTO
dez. 11 - 4 min de leitura
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Preso entre março e junho deste ano, Padre Amaro foi detido injustamente por ser solidário e defensor dos direitos humanos, encorajando o povo a ir ao Ministério Público, na Defensoria Pública e em outros órgãos denunciar constantes ameaças de madeireiros e, também, os 16 assassinatos de trabalhadores rurais. Como padre da Paróquia de Santa Luzia de Anapu, da Prelazia do Xingu, situada no estado do Pará, e coordenador da Comissão Pastoral da Terra, há 20 anos Amaro é importante defensor dos assentamentos de sem-terras na cidade. Sua atuação ficou ainda mais forte após o assassinato da Irmã Dorothy, em 2005, o que lhe deu forças para continuar o trabalho da missionária. O presidente do Sindicato Rural, madeireiro e político Silvério Fernandes acusou e difamou o religioso e, mesmo sem provas, inventou histórias grotescas com o intuito de afastá-lo da cidade. Tudo foi desmentido. Em entrevista exclusiva ao Repórter Brasil, o padre conta sobre as maldades da família de Fernandes (seu acusador), que está pessoalmente ligada à morte da irmã Dorothy.

Por Daniel Camargos, para Repórter Brasil
De Altamira, Pará

E a acusação de invasão de propriedade?

Padre Amaro: Nesses anos que estou no Anapu o pessoal ocupou terra sim. Mas se alguém disser que eu liderei é mentira. A Comissão Pastoral da Terra é uma entidade ligada à igreja católica. O papel nosso é dar assessoria aos trabalhadores e trabalhadoras rurais em qualquer tipo de situação em que eles estejam. O trabalho da CPT é dar assessoria e mostrar que o pessoal que ocupa uma terra pública da União tem direito a um pedaço de terra para trabalhar. O papel da CPT é esse, dar formação. O papel não é fazer por eles, mas ajudá-los a andar com seus próprios pés.

Qual o papel do senhor nesse movimento?

Padre Amaro: Vou te dar um exemplo. Você conheceu a Mata Preta [projeto de assentamento em Anapu]. Lá eram quatro glebas de terra na mão de um senhor apenas. Agora são 260 famílias. Até eles conseguirem ficar lá as casas foram queimadas várias vezes. É duro chegar, ver um pai de família dentro do capim com seus filhos, a casa queimada, ainda fumaçando e ao olhar para a sede ver que lá dentro está cheio de guachebas (pistoleiros). Eu fui lá tentar mediar. Naquele momento eu sabia que podia ter pegado uma bala, mas naquela hora de descaso e tristeza, superei tudo e fui conversar com os guachebas, que ficaram de deboche. Eu disse para eles: “mas se está na justiça porque vocês fazem uma covardia dessas?”. Eles responderam que a terra não era deles. Eu disse: “Está na justiça! Se a justiça disser que é do patrão de vocês tudo bem”.

Averson e Ivonete Batista já foram atacados por pistoleiros e esperam há quatro anos a regularização do assentamento onde vivem com os seis filhos e 18 netos, em Anapu.

Qual a estratégia para lidar com a possível criminalização dos movimentos sociais que lutam por reforma agrária, no próximo governo?

Padre Amaro: Vamos sentar, a CPT e todas as entidades e ter paciência, resistência e união. Temos que dar as mãos independente da sigla de cada unidade. O girassol quando nasce durante o dia procura o sol. No momento de frio, quando o sol não aparece o que ele faz? Ele vira um para o outro, se aquece e não morre. Será que não estamos olhando cada um para um lado e defendendo a própria bandeira ou entidade? O momento é de juntar e partir para a luta. Acreditar na vida mesmo quando todos desacreditam. Resistir aonde quer que você esteja. Acreditar no pequeno, pois eles têm suas estratégias de luta e resistência. Muita coisa que vem de cima, nos pacotes, não tem sustentabilidade e nem se segura. Quem segura é quem está na base.

Leia entrevista completa aqui:

"Cruzada contra sucessor de Dorothy Stang" - Repórter Brasil, 06/12/2018: https://bit.ly/2BcK9H5


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